Ano A – 15º Domingo do TC É PRECISO SEMEAR
- encontrobiblicocat
- 11 de jul. de 2020
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O Senhor está presente na vida e necessidades do seu povo, segundo Isaias 55, 10-11. Por muito tempo, pelos profetas, Deus se dirigiu aos eleitos, e agora, como confirmação do que fora anunciado, o profeta compara a Palavra de Deus com os elementos que tornam fecunda a terra. Essa terra é o coração dos homens e mulheres que devem multiplicar o plano de salvação, tornando todos participantes efetivos do ministério salvífico. A história da salvação de Israel é explicada com a presença operante da Palavra de Deus. Isso nos convida à pergunta: que terra sou eu? A Palavra foi semeada e cabe ao fiel divulgá-la com o testemunho comprometedor. É preciso que o agricultor colabore com a terra e a chuva, cultivando o dom de Deus para que todos sejam alimentados com o pão, por isso deve ser um operário responsável e eficiente.
Na segunda leitura São Paulo, como um desabafo, prega ao Romanos sobre a condição humilhante dos homens que estão sob a dependência do pecado, mas espera a sua libertação (Rm 8, 18-23). O sofrimento, como é natural, não pode ser comparado à glória ou participação íntima na vida de Deus, que é o destino de todos os fiéis. A criação foi submetida ao pecado, ao sofrimento, à ausência de Deus. Mas Deus deixou uma centelha de esperança, e por isso toda a criação geme enquanto espera a eliminação final do caos e do retorno à perfeição na integridade em Deus. Também esperamos a redenção final e definitiva, com paciência e perseverança. As tribulações, as provações devem nos fortalecer na caminhada ao Paraíso Celeste, meta de nossa vida.
No Evangelho (Mt 13, 1-23), nos é apresentado um ensinamento diferenciado. Na introdução (13,1-3) indica-se que Jesus faz distinção entre ensinamento aos discípulos e à multidão. Aos discípulos é uma catequese detalhada, mais profunda; à multidão é um convite à adesão, aceitação de sua mensagem. A pregação de Jesus em Mateus é um falar, um comentário sem muita teologia. O ensinamento, voltado para os discípulos, é a exposição que Cristo faz das exigências divinas como mestre da Lei. Estamos aqui diante de um ambiente, uma revelação da realidade do Reino de Deus. Os destinatários são as multidões, por isso usa linguagem simples, em parábolas, para tornar compreensível sua pregação: para pessoas simples, pregação simples.
O semeador, 13,4-9. O centro da parábola é a semeadura, a missão, que em três momentos não tem sucesso indicado em quatro versículos, e só no final produz uma colheita abundante. Faz parte da rejeição de Jesus na Galileia. Duvidava-se que Ele fosse o Messias e que pudesse confiar no Reino anunciado por Ele. É preciso recuperar a confiança das pessoas e dos discípulos; portanto, é uma parábola de confiança. Apesar do insucesso, existe uma semente que germina e dá frutos. O semeador é Jesus que não desiste de anunciar o Reino, e os discípulos também devem perseverar como Ele. Entre a semeadura e a colheita existe uma espera, entre a sua missão e a vinda do Reino existe um tempo de germinação confiante.
Apesar dos obstáculos e das dificuldades decisivas para a salvação do homem, supera a temporariedade humana para transcender a divindade que age. O seu messianismo, a princípio, longe de ser glorioso e colher frutos de imediato, defronta-se com a fraqueza, a derrota e o insucesso, a descrença dos ouvintes. A parábola nos convida a confiar no Reino de Deus que vem pela ação do Filho. A confiança do semeador, que lança a semente de mãos cheias, exorta o cristão para que saia do seu comodismo, do seu medo para se abrir à novidade do futuro que já está presente e convida à missão. Nem tudo é fácil, existem dificuldades a serem superadas corajosamente. É preciso semear sempre.
Por que falar em parábolas, 13,10- 17. À pergunta dos discípulos, Jesus faz uma longa explicação sobre ouvir, aceitar, praticar ou não a pregação sobre o Reino de Deus. Entendendo que privilégio não é apadrinhamento, mas reconhecimento da origem de Jesus e sua missão; enquanto os demais se negam a aceitá-lo. Por isso os discípulos são privilegiados e lhes é dado conhecer o Reino de Deus, negando-o aos de fora, aos incrédulos, que se referem aos judeus. Os judeus foram obstinados em recusar a pregação de Jesus, chegando a condená-lo à morte. O insucesso da pregação de Jesus e da Igreja não pode colocar em dúvida a messianidade de Cristo e a sua legitimidade divina e da Igreja. A incredulidade desses ouvintes não aceita a verdade como ela é, por isso lhes é comunicada de forma figurada ou parabólica para indicar, de forma teológica, o sucesso ou não de Cristo diante dos judeus. A sua palavra torna-se, portanto, instrumento que condena o povo judaico na sua obstinação e incredulidade. A pergunta diz respeito às pessoas que ouvem as parábolas, à multidão. O problema não é o discurso parabólico em si, mas as parábolas enquanto dirigidas às pessoas que não aceitam e permanecem na incredulidade. Assim, os discípulos são privilegiados porque lhes são oferecidos os segredos do Reino, e negado à multidão, em referência aos judeus que não acreditam. O verdadeiro motivo se baseia na disponibilidade e abertura dos discípulos em aceitar as verdades reveladas. A multidão ouvindo, não ouça, vendo, não crê, por causa de sua atitude de incrédulos. Naquele momento dava-se uma ruptura definitiva entre Igreja e rabinato farisaico pela incredulidade deles, os judeus se fecham na sua obstinada rebelião. Por outro lado, os segredos do Reino são dados a todos os que abrem o coração e se tornam disponíveis ao dom divino, como os discípulos. Ele reserva a explicação das parábolas aos discípulos. A pregação em parábolas e Jesus já era uma condenação das pessoas que, como no caso do pecado contra o Espírito Santo, se fecham intencionalmente à compreensão de sua palavra. Jesus fez a experiência do fracasso, descobrindo nele o sinal misterioso do projeto de Deus. A partir daí, a comunidade cristã primitiva e os evangelistas construíram uma teologia sobre a cegueira e a obstinação em negar o Cristo, como os israelitas. A Igreja, hoje, se coloca neste centro de anúncio, aceitação, para que a verdade seja implantada e vivida na sua plenitude, por isso Cristo precisa ser estudado, assimilado por nossas comunidades, para se extinguir a cegueira, aceitar a revelação aos humildes e pobres de coração.
Explicação da parábola do semeador, 13,18-23. O interesse está no comportamento moral das pessoas que escutam a palavra de Deus, estão ameaçadas por Satanás, por crises, perseguições, riquezas e não dão frutos. Ao contrário, as que são livres dessas amarras, produzem frutos em abundância. Tudo depende da liberdade na escuta. A audiência superficial, unida à inconstância diante das dificuldades, a facilidade em ceder diante das provações, torna a palavra estéril. O interesse se volta para o ouvinte e não para Jesus, o semeador. É o interesse cristológico sobre a preocupação moral. Coloca-se em primeiro plano a necessidade de ser fiel à palavra ouvida. Mateus divide os ouvintes em duas categorias: os que não compreendem a palavra e os que a compreendem. No primeiro caso, a palavra não produz frutos, no segundo, ela produz frutos, mas em percentuais diferentes de acordo com o grau de compreensão de cada ouvinte, entendendo compreensão como aceitação. Essa compreensão não se trata da qualidade intelectual, mas da adesão, da atitude prática. Todas as categorias são ouvintes, apenas a última foi capaz de assimilar e compreender a pregação evangélica, por isso, capaz de produzir frutos. Na comunidade de Mateus havia relaxamento, como vimos na introdução do nosso trabalho, por isso, não basta pertencer à Igreja e ser batizado. É necessário viver o Evangelho e acolher Jesus Cristo. A parábola é um convite à perseverança e a firmeza. É uma escuta sincera e operativa, libertadora das cobiças, das riquezas e fechamento nos próprios interesses. Quem se fecha não acolhe, não dá frutos. (O comentário sobre o Evangelho é tirado do livro: Curso Pastoral sobre Bíblia – Evangelho de Mateus, de minha autoria).

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