Ano A – 16º DOMINGO DO TC ENSINAMNETOS SOBRE O REINO DE DEUS
- encontrobiblicocat
- 18 de jul. de 2020
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Na primeira leitura a liturgia nos apresenta a Sabedoria como personificação de Deus. É o Espírito amigo dos homens e em seu favor age. É um atributo divino, pois possui poder e enche a terra com justiça. O que caracteriza a Sabedoria é a força sapiencial de Deus que sobrepõe ao conhecimento humano, enquanto em Deus existe a origem do saber e da justiça, nos homens o saber é oportunismo e interesseiro A Sabedoria divina não faz proselitismo, a humana é a arte selecionar seguidores. A Sabedoria cuida da salvação ao longo da história humana. Ela salvou e abençoou fiéis que nela confiaram. Descobrimos a presença sapiencial de Deus nas reviravoltas da vida e aprendemos que Ele nos fala pelos acontecimentos. É o Senhor da história e da criação, do perdão e da reconciliação.
São Paulo, na segunda leitura, Rm 8, 26-27, atualiza a Sabedoria ao afirmar que Deus socorre as nossas necessidade e perscruta os corações, sabendo suas necessidades. A sua manifestação se dá pelo Espírito . A vida do cristão é uma constante caminhada com a Sabedoria. Aprenderá a discernir as verdades e recusar as mentiras, agindo com justiça evangélica.
No Evangelho, Mt 13,24-43, faz uma exposição da realidade da Igreja que vive a centralidade do Reino de Deus, entre o proprietário do campo e o seu adversário, entre o trigo e o joio, entre a semeadura, o crescimento e a colheita, entre o celeiro onde vai ser guardado o trigo e o fogo que queimará o joio. Mas o fato é destacado entre o proprietário e os empregados, a impaciência destes e a sabedoria do patrão, que mostra o risco em extirpar antes da hora a erva daninha, sem pôr a perder também o joio que se parece com o trigo. Cristo tinha anunciado a vinda do Reino de Deus. Tinha feito milagres que confirmavam a presença do Messias. Havia uma expectativa febril sobre a chegada do Reino. O Messias reuniria em torno de si uma comunidade de puros, depois de condenar à perdição os pecadores, como Isaías havia profetizado sobre o povo como rebento da plantação, como obra de sua mão (cf. Is 60,21). Até então, Jesus não tinha condenado os pecadores, os acolhia com misericórdia. Com o crescimento do mal, Jesus apresenta esta parábola para mostrar que os bons e os maus vivem lado a lado até o tempo último da separação. A nossa história deve tolerar o adversário ao lado dos bons, até o momento do julgamento final. Jesus não veio para realizar, agora, o julgamento final, mas lançar as bases do Reino de Deus. Agora é o tempo da misericórdia, do acolhimento dos pecadores, da conversão. É preciso rever a vida para realizar o messianismo verdadeiro. Não podemos pensar numa Igreja radical que acolhe os puros e separa à condenação a multidão dos malvados. Aqui é um campo onde crescem trigo e joio. Está fora de cogitação canonizar e condenar antes da colheita.
O grão de mostarda, 13,31-32. Jesus, nesta parábola, ressalta a desproporção entre a semente e a árvore, para salientar o anúncio e a implantação do Reino de Deus. O foco está na pequenez da semente e na grandeza do arbusto. O anúncio do Reino que já estava próximo, provocou um alvoroço no povo. Uma agitação para assistir a grandeza da última vinda do Senhor em toda sua magnitude. Mas houve uma decepção: o que se viu foi fraqueza, insignificância, pobreza. A grandeza do tempo messiânico não se espelhava nele. Jesus toma posição com essa parábola, e pede confiança. Nele está presente o Reino de Deus, não como os reinos humanos, mas o seu que começa como uma semente insignificante e só mais tarde tornar-se-á arbusto. A grandeza do Reino começa na pobreza da missão de Jesus. É preciso uma mudança radical da mentalidade. O triunfalismo é atitude humana e manifestação de nossos desejos, sonhos, projeções de nossas fantasias. Só depois, a comunidade fará uma releitura da parábola e com nova mentalidade compreenderá a missão evangelizadora do Senhor. A pregação apostólica e a vinda dos pagãos para a fé e sua entrada na Igreja, foi a chave da leitura da semente e do arbusto. O Reino de Deus é aberto a todos, inclusive aos pagãos, que, com sua adesão ao Reino de Deus, fez da pequena semente uma comunidade de crentes, demonstrando sua eficácia na expansão da Igreja. Para nós, a parábola fala da esperança e da fé como afirmação do futuro, fundada nos acontecimentos salvíficos inaugurados por Cristo que acolhe sem reservas.
O fermento, 13,33. Esta parábola parece com a parábola da semente da mostarda.
O aumento da farinha fermentada mostra a ação transformadora da missão de Jesus no mundo, para que nele seja introduzido o Reino. Há uma desproporção entre o fermento e a farinha, mas ele é capaz de fermentar toda a farinha, multiplicando-a abundantemente. Outro fator colocado por Jesus: o fermento está escondido, também o Reino de Deus não se manifesta plenamente, vai aos poucos sendo revelado. Jesus também vai modestamente se mostrando, o que caracteriza o seu messianismo. Aquilo que é insignificante, pequeno, está na grandeza do Reino que age para salvar a todos. Não estamos mais no começo humilde da missão, o Reino, através da Igreja já se abriu a todos os povos. No milagre da cruz, a Igreja, a partir de sua pequenez, vivendo da pobreza de nossa ação, fermenta os homens de boa vontade realizando o plano salvífico do Pai.
Falava em parábolas, 13,34-35. Mateus relata, como vimos, que Jesus falava à multidão em parábolas, e aos discípulos, explicava tudo; mas aqui Ele introduz uma citação bíblica para dizer que cumpre as profecias, citando o Salmo 78,2, mostrando que, em Jesus, se realiza o Antigo Testamento. Só que Mateus oferece uma conclusão teológica sobre o objetivo das parábolas: nele se realizam todas as promessas proféticas de forma enigmática. O estilo parabólico, a partir de uma linguagem humana, dá lugar a uma comunicação celeste, permitindo a Jesus exprimir o que está escondido desde a fundação do mundo.
Explicação da parábola do joio, 13,36-43. O próprio Jesus explica toda a parábola, mas é bom notar o detalhe: é uma conversa com os discípulos, excluída a multidão. A partir dessa explicação, os discípulos poderão semear o Evangelho com propriedade e segurança. É uma formação catequética. Mateus usa a pregação de Jesus para uma comunidade fria, acomodada, alertando-a para o juízo final. Este é o seu interesse em todo o Evangelho. É preciso viver na obediência às exigências do Reino promulgadas por Cristo. Da parábola do joio, que relata a impaciência messiânica do povo e dos discípulos, pedindo a coexistência pacífica entre o bem e o mal, nota-se agora o oposto, apresentando a condenação do mal. Agora não se fala mais da semeadura nem do crescimento simultâneo do trigo e do joio, mas da colheita que significa a separação definitiva do mal e do bem entre os homens. O objetivo é pastoral: sacudir a comunidade do seu comodismo e tibieza. Viver segundo a vontade do Pai na dimensão do amor ao próximo e não ser infiel à lei de Cristo. Ser cristão não garante a salvação final. O juízo agirá não sob os critérios religiosos ou confessional, mas segundo a prática do mandamento do amor. A falsa segurança dos cristãos, confiantes em elementos institucionais e sacramentais da Igreja, sem a prática do amor, não garante a vida eterna revelada por Cristo. (Comentário do Evangelho tirado do livro CURSO PASTORAL SOBRE BÍBLIA, Evangelho de Mateus, de José Barbosa de Miranda).

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