Ano C – DOMINGO DE RAMOS - MEMÓRIA DA HISTÓRIA SALVÍFICA
- encontrobiblicocat
- 12 de abr.
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O próprio Cristo pediu a seus apóstolos, no último encontro, que fizessem lembrança de sua Paixão Redentora. Começamos a celebração da Paixão, ou lembrança, com sua entrada festiva em Jerusalém, quando Ele é proclamado “o enviado em nome do Senhor”. Desde a perda da amizade com Deus, com o pecado dos primeiros pais, a História da Salvação relata como Deus procurou várias vezes a humanidade para libertá-la. Na primeira leitura deste domingo (Is 50, 4-7) o profeta lamenta o fracasso da missão, em referência à não escuta dos profetas, com a apostasia de Israel que se deixa contaminar pela idolatria, tornando-se exilado e dominado por nação pagã. Essa narração, colocada na boca do Servo de Javé, não é um fracasso de Deus, uma vez que é o próprio Deus que aceita a missão, entregando a própria vida para redenção da humanidade. Convida Israel a converter-se e manter-se unido a Javé. Fracassaram vários profetas que advertiam o povo, mas não ouvindo-os, foram exilados. O que Deus realiza agora, em seu Filho, não é apenas para um povo, mas para todos, é uma salvação universal, brota o clarão de salvação. É a vitória sobre a mentira, sobre o pecado. A fidelidade de Deus não é a do povo, é o resgate do homem decaído. Javé, humilhado, escarnecido, esbofeteado, desfigurado nos tira da condenação pelo pecado para nos tornar membros da família divina.
O apóstolo (Fl 2, 6-11) convida a Igreja que está em Filipo a revestir-se de Cristo, despojando-se de tudo o que afasta da cruz. A exortação usada na carta é um hino cristológico. Exorta os filipenses a se comportarem como Cristo se comportou, imitando sua obediência ao Pai. Cristo, morto e ressuscitado, é a nova meta de vida, na qual os fiéis, por graça, foram introduzidos n’Ele. Pela obediência, Cristo não se afastou da missão, assumiu-a plenamente: esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. Crucificado, escândalo dos judeus, tolice para os pagãos, foi sua degradação final. E o apóstolo continua apresentando a resposta do Filho de Deus como reação à humilhação: Por isso que Deus o exaltou superlativamente. Deu o mais sublime que existe. Cristo renunciou à sua condição divina para fazer-se solidário com a humanidade decaída. Por isso, o Pai o exaltou após a morte com a ressurreição. A participação dos homens na vida de Cristo, pela humilhação da cruz, é a consumação de sua vocação.
São Lucas apresenta o relato da Paixão a partir da instituição da Eucaristia e do Sacerdócio Ministerial (Lc 22, 14-23, 56). Primeiro Cristo constituiu seus sucessores, e, a partir deles, se perpetua no Pão e no Vinho, não deixando órfã sua Igreja. No processo político-religioso, Cristo é julgado sem direito a defesa. Vemos, pelo relato lucano, que os protagonistas históricos da condenação de Jesus são os chefes do judaísmo, os escribas, os teólogos, os magistrados, o supremo conselho. Por medo traem a verdade. Pela aliança com o poder político se vendem e condenam o inocente. Na instituição da Eucaristia surge a discussão sobre os privilégios. Quem é o maior, o mais importante, o que deve ocupar os melhores lugares. É o momento em que Cristo reforça a qualidade do discípulo e o que consiste no serviço: o maior entre vós tome o lugar do mais jovem, aquele que manda, o lugar do que serve. O processo lembra a fraqueza humana com a negação de Pedro, mas, ao mesmo tempo, a misericórdia de Cristo que o confirma como primeiro chefe de sua Igreja.
Não podemos nos acomodar diante desse relato histórico que indica as autoridades religiosas envolvidas com a política. Hoje há muitos escribas, sacerdotes, fariseus, teólogos que continuam condenando Jesus. Há muitos juízes que não suportam as verdades deixadas pelo Nazareno. Há muitos governantes que querem apagar o que Jesus ensinou e viveu. Há muitos religiosos que não querem servir, mas usar o cristianismo como fonte de poder, de projeção social, principalmente na mídia. Há muitos que, se o Evangelho incomoda, troca-o, elimina-o. Há muitos que, se a Igreja importuna, incomoda, que seja exterminada. É hora de tomar uma decisão: continuar com a conversão ou permanecer na condenação. Quando se condena o Cristo em sua Igreja, condena a si mesmo. A liturgia deste domingo nos abre as portas da Igreja para celebrar a nossa redenção. Entramos por ela ou pela do poder mundano, da vida fácil, da exclusão de Deus. Estamos com a turma do crucifica-o ou com o centurião que confessou: realmente este homem era um justo.

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